Translate

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Pituba acuada: bando fardado faz arrastão na Paulo VI e medo domina ruas do bairro

Bairro de classe média, cheio de escolas, bancos e restaurantes, a Pituba virou um espaço onde os assaltantes atuam com desenvoltura

30.10.2013 | Atualizado em 30.10.2013 - 08:08
Visualizações: 5518 - Versão Impressa
Tamanho da letra: -A | +A


Avenida Paulo VI, Pituba, 10h40 de ontem. A pé, um grupo formado por 12 pessoas – dez adolescentes, sendo sete meninas e três meninos, e dois homens adultos –, a maioria usando fardas de escolas públicas, abordou e roubou cinco estudantes do Colégio Estadual Rapahel Serravale.
Minutos depois do roubo, nove celulares, 13 relógios e cinco bonés já estavam sendo partilhados entre os ladrões diante do Shopping Iguatemi. Todos foram flagrados por policiais militares que estavam com duas das vítimas na viatura, buscando os suspeitos.  
“Colocamos as vítimas na viatura e fomos atrás do grupo. Uma das vítimas, que já tinha ido embora, ligou para o celular da colega que estava conosco e disse que viu o grupo em frente ao Iguatemi”, contou um soldado da 13ª Companhia Independente da PM.
Os objetos foram recuperados e os dez menores foram apreendidos e levados para a Delegacia do Adolescente Infrator (DAI), onde prestaram depoimentos. Nenhuma arma foi encontrada com o grupo, que teve alguns membros reconhecidos pelas vítimas.
Pela quantidade de objetos recuperados, a polícia suspeita que o grupo realizou outros roubos antes e depois de abordar os estudantes. Até a noite de ontem, não foi confirmado se os menores seriam encaminhados à Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac) ou liberados. Os dois adultos foram autuados por roubo na Central de Flagrantes.
Rotina 
O que ocorreu ontem numa das principais vias da Pituba não é raro. No bairro, a maior parte dos assaltos, arrombamentos de veículos e pequenos furtos – principal tipo de crime registrado no bairro, segundo a Polícia Militar – é praticada por menores.
“São adolescentes e, quando chegam na DAI, são soltos, porque eles não podem ser presos”, disse o capitão Garrido, da 13ª CIPM. O delegado Nilton Tormes, titular da 16ª Delegacia, discorda quanto a quantidade de menores nos roubos. “Existe a participação significativa de menores, mas não chega a ser a maior parte. O que percebemos é que a participação das mulheres tem aumentado”, afirmou ele.

Mesmo com sistema de câmeras, restaurante na Manoel Dias já foi arrombado seis vezes apenas este ano
Tormes, entretanto, também aponta o problema da rápida liberação dos assaltantes. “O pessoal que assalta os estudantes, por exemplo, pegamos no mês passado e foram soltos no dia seguinte”.  
Medo 
“Eu peço a Deus para guardar a minha vida e de minhas colegas. É roubo toda hora, muito assalto”, contou uma funcionária de um salão de beleza na Rua Artur Gomes de Carvalho, onde, anteontem, a tentativa de roubo de um carro resultou na troca de tiros entre o assaltante e a vítima, o policial rodoviário federal aposentado Roberto Marques, 57.
A secretária do lar Vitória Alves, 60, que mora na Rua Miguel Navarro Y Cañizares, afirma que a sensação de insegurança é constante. “Quando dá 18h, eu já fico assustada. Tem vários funcionários do prédio que já foram assaltados e os  alunos do colégio (Oficina) também são roubados na rua mesmo”, disse. A informação foi confirmada por seguranças da escola.
Para o verdureiro Alexandre de Oliveira, que trabalha há cinco meses em uma banca  na Rua Miguel Navarro Y Cañizares, é a certeza da impunidade que faz com que os assaltos se repitam. “Pior é que a viatura até passa, mas os caras não se intimidam. É a certeza da impunidade”.

Cerca elétrica no teto é nova tentativa de inibir ação de invasores
Alexandre lembrou que na última semana ouviu uma mulher pedindo por socorro depois de ter a bolsa roubada, por volta das 19h, por um homem que estava em um carro. Ele citou também o caso do   vendedor Elisvaldo Conceição de Oliveira, de 36 anos, que foi executado no dia 23 de setembro numa banca de frutas e verduras da Rua Ceará.
As mortes violentas criminosas, porém, não são o principal problema do bairro. De 1º de janeiro a 15 de outubro deste ano, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), foram registrados seis  Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) na  Pituba, entre homicídios dolosos, roubos seguidos de morte (latrocínio) e lesões corporais seguidas de morte. No mesmo período do ano passado, foram quatro CVLIs.
Prevenção 
Para o pesquisador Carlos Costa Gomes, do Observatório de Segurança Pública da Bahia (Unifacs), a solução a curto prazo para diminuir a sensação de insegurança da população é melhorar o policiamento preventivo.
Comentando o envolvimento de menores em assaltos, Costa Gomes lembra que é necessário o cumprimento de todos os pontos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), mas vê problemas na estrutura para receber os adolescente infratores.
“Nós não temos lugares para que eles sejam recolhidos, nem temos delegacias suficientes. Eles só voltam para a rua se não tiverem um local. Então, se ele volta para a rua, é um risco para ele também”.

Loja na Avenida Manoel Dias da Silva já foi invadida pela porta principal e pelo vão do segundo pavimento
Segundo Costa Gomes, o retorno às ruas é um sinal do descumprimento do ECA. “Eu defendo até a redução da maioridade penal como uma forma de proteção”.
Conselho de Segurança atua na prevenção
Em março deste ano foi criado o Conselho Comunitário de Segurança Pública da Pituba. A entidade conta com a participação de 16 entidades, incluindo a 13ª Companhia Independente da Polícia Militar e a Paróquia Nossa Senhora da Luz. Segundo a presidente do Conselho, Carmen Angélica Santana, da Associação dos Amigos da Lagoa dos Patos (Asalp), o principal objetivo do grupo é a prevenção. “A gente tem apontado dicas de segurança, porque a população tem que se prevenir”. Após a criação do Conselho, segundo Angélica, houve uma redução de cerca de 30% no número de ocorrências no bairro.
Ainda assim, ela diz que os assaltos, pequenos furtos e roubos de veículos são comuns no bairro. De janeiro a junho deste ano, a Área de Segurança (Aisp) 16, da Pituba, foi a oitava com maior número de roubos e furtos a veículos – 207.
Para o Capitão Heroney, da 13ª CIPM, a participação da população nas reuniões do Conselho, que acontecem a cada 15 dias, é importante, mas tem sido baixa. “O Comando da Unidade tem envidado forças desde o ano passado e mais ainda este ano, com o Conselho, mas a população tem participado pouco”, cobrou.
Bandidos abusam dos arrombamentos noturnos
Gil Santos e Aline Damazio
Eles entram na madrugada e levam tudo que for possível. Os arrombadores noturnos têm atormentado comerciantes da Avenida Manoel Dias da Silva. Os invasores nem ligam para as câmeras de vigilância e até já sabem o tempo médio que a polícia demora para chegar após o alarme ser acionado.
Ontem, o CORREIO visitou dez estabelecimentos comerciais na Manoel Dias e apenas uma deles ainda não foi alvo de arrombamentos ou assaltos. A maior parte adotou sistemas de segurança próprios, contratou seguranças ou vive de portões trancados, mesmo quando eles estão funcionando.
“Só este ano foram seis arrombamentos e duas tentativas de arrombamento aqui. Os bandidos já entraram pelo basculante, pelos fundos e pelo banheiro. A tática agora é entrar pelo teto”, contou o gerente do restaurante Quinta Avenida, Fernando Moreira. Segundo ele, os ladrões levaram dinheiro, computadores, tíquetes e até uma balança. O prejuízo estimado é de R$ 40 mil. Além disso, o gerente informou que já foram investidos cerca de R$ 15 mil em sistemas de vigilância, alarmes e cercas elétricas.
“Quando entram, eles destroem tudo. Precisei trocar as duas mesas do escritório, porque, tentando arrombar as gavetas, eles destruíram. Já perdemos quatro notebooks”. Ontem, técnicos instalavam alarmes na cobertura e cercas elétricas no telhado do restaurante, que funciona há 23 anos no local.
Segundo o gerente Fernando Moreira, há cerca de um ano, o problema dos arrombamentos começou a aumentar. Os capitães Garrido e Heroney, da 13ª CIPM, reconheceram que os arrombamentos têm sido mais constantes que os assaltos na região.
PM da área tem três carros e três motos
A 13ª CIPM (Pituba) tem efetivo de 158 policiais, que se revezam em turnos e contam com três carros e três motos para as rondas. “Além disso, são realizadas operações com o apoio da Rondesp, do Esquadrão de Motociclistas Águia e da Operação Apolo”, informou a PM, em nota.
Apesar disso, policiais militares dizem não ser “onipresentes”. Após um prejuízo de R$ 7 mil em produtos roubados e o investimento de mais R$ 6 mil em segurança, a empresária Janete Santos, 46, decidiu fazer um abaixo-assinado entre os comerciantes da Avenida Manoel Dias da Silva para pedir uma audiência com o titular da SSP, Maurício Barbosa.
Na Manoel Dias, comerciantes chegaram a dizer que policiais da 13ª CIPM oferecem serviços particulares de segurança em troca de dinheiro. “Um deles perguntou se eu não tinha interesse em segurança particular. Ele disse que se eu ‘colaborasse’, ele poderia dar uma atenção especial aqui”, afirmou um empresário.
Em nota, a assessoria de comunicação da PM informou que não há registro na Ouvidoria de denúncias sobre a conduta de policiais da 13ª CIPM. Os canais de denúncia são: telefone 162 ou o site www.pm.ba.gov.br.

Nenhum comentário:

Postar um comentário